Junho de 2022

Priscila Bonini

In: Seleção de Artigos Jurídicos – ABA/RJ

A principal conexão entre as marcas e os consumidores na atualidade é a compatibilização de valores e ideologias, uma vez que o consumo consciente cresceu em torno de uma demanda que se permeia em representatividade e, assim, a aproximação dos clientes da história por trás dos produtos tornou-se fundamental.

Busca-se cada vez mais a responsabilidade e consciência sobre as posições sociais e políticas das marcas com as empresas que se relacionam, assim como as práticas sustentáveis desde o processo produtivo até a sua disposição.

Deste modo, quão mais transparente a indústria se proponha a ser, maior a possibilidade de conexão por parte dos consumidores e consequente expansão das marcas.

Nesse sentido surgiu o blockchain, uma ferramenta inovadora que tem como propósito, dentro da aplicação na indústria da moda, criar essa conexão transparente quanto à cadeia produtiva, viabilizando a troca de informações de forma fidedigna.

Baseia-se em uma tecnologia descentralizada[1], ou seja, cujas informações não partem e uma autoridade central, que, neste caso, seria a marca, mas que, do contrário, possibilita a participação de todos os fornecedores através da confirmação das informações dispostas[2], os quais devem validá-las, gerando confiabilidade nessa troca.

A plataforma oportuniza o acesso às informações através de um código denominado “QR Code”, presente na etiqueta de cada peça, concedendo a qualquer um o conhecimento da história por trás destas[3], garantindo-se, assim, a confirmação de sustentabilidade, qualidade e autenticidade quanto ao processo e vestimentas[4]. Há, da mesma forma, um trabalho de assessoria e estímulo às oficinas de costura a se formalizarem e a oferecerem segurança e condições justas de trabalho[5].

Ademais, o fato de as informações serem registradas de forma sequencial, histórica e imutável[6], como anteriormente explicitado, garante, de modo efetivo, que a transparência e rastreabilidade se oportunizem.

O propósito é, portanto, fornecer informações seguras e confiáveis, de maneira que o consumidor possa se alinhar ao posicionamento da marca e, evidentemente, combater um dos maiores problemas contemporâneos da indústria: as condições laborais.

É inconteste que essa demanda de a moda se tornar comprometida com a sustentabilidade ambiental e social representa um grande marco, eis que o sistema de moda se desenvolveu na Revolução Industrial[7], ou seja, já, de princípio, pautada em princípios contrários ao desenvolvimento sustentável e do consumo consciente. A tentativa é, pois, reverter esse processo e alinhar às demandas evolutivas da modernidade.

Induz-se, de sobremaneira, que a aplicação do blockchain é revolucionário ao impulso de um futuro de práticas mais justas e conscientes, representando não uma tendência, mas uma prática inconteste ao futuro e evolução da indústria.

[1] MARANHÃO, Matheus. Descentralização e Blockchain – Passos rumo ao futuro. Disponível em: https://cointimes.com.br/blockchain-descentralizacao-ao-futuro/. Acesso em: 16 nov. 2020.

[2] CUNHA, Renato. Aumentando a Transparência na moda com blockchain. Disponível em: https://www.stylourbano.com.br/aumentando-a-transparencia-na-moda-com-blockchain/. Acesso em: 16 nov. 2020.

[3] SIEPIERSKI, Ana Luiza. Blockchain como impulsionador da sustentabilidade na indústria da moda. More Brands and Fashion. Disponível em: https://www.morebrandsandfashion.com/single-post/2020/10/09/BLOCKCHAIN-COMO-IMPULSIONADOR-DA-SUSTENTABILIDADE-NA-INDÚSTRIA-DA-MODA—Ana-Luiza-Siepierski. Acesso em: 17 nov. 2020.

[4] COLERATO, Marina. Como o Blockchain pode deixar a moda mais transparente e sustentável. Disponível em: https://www.modefica.com.br/blockchain-moda-transparente-sustentavel/#.X7PL_S_5SRs. Acesso em: 17 nov. 2020.

[5] SANTOS, Clarice Fernandes. A tecnologia blockchain na indústria da moda. Disponível em: https://modacomdireito.com.br/a-tecnologia-blockchain-na-industria-da-moda/. Acesso em: 17 nov. 2020.

[6] FERREIRA, Afonso. Blockchain e o mercado da moda. Disponível em: https://medium.com/@afonsoferreira_54831/blockchain-e-o-mercado-da-moda-69ad71bb7868. Acesso em: 17 nov. 2020.

[7] TÓDERO, Mirele. Consumo consciente e percepção do consumidor sobre ações corporativas vinculadas ao conceito de responsabilidade social: um estudo no setor da saúde. Dissertação de Mestrado. Universidade Caxias do Sul – agosto de 2009. pag. 36.